1. Introdução
A fluência basicamente consiste no aumento da deformação do
elemento carregado quando é mantida constante a tensão sobre
o elemento [1]. Esta carga externa mantida constante torna-se a
força motriz para o movimento da água fisicamente adsorvida e da
água retirada dos pequenos capilares. Assim, a deformação por
fluência pode ocorrer mesmo com 100% de umidade relativa [2].
A fluência é normalmente classificada em fluência básica e fluên-
cia por secagem. A fluência básica é aquela que ocorre sem troca
de umidade com o ambiente. Segundo Mehta e Monteiro [2], esta
condição geralmente surge em estruturas de grande porte onde
a retração por secagem pode ser desprezada. Já a fluência por
secagem é a deformação adicional observada quando o concreto
é submetido a um ambiente com umidade relativa inferior a 100%.
Como o aumento gradual da deformação por fluência pode ser
várias vezes maior do que a deformação no momento do carrega-
mento, a fluência tem considerável importância nas estruturas. Ela
afeta as deformações e as flechas e, muitas vezes, também a dis-
tribuição de tensões; mas, dependendo do tipo de estrutura, estes
efeitos são variáveis. Para o concreto massa, ela é um parâmetro
importante, pois o seu efeito resulta na relaxação das tensões de
origem térmica oriundas do resfriamento do concreto. Já para o
concreto protendido, ela contribui para a perda de protensão [3].
Os movimentos da umidade na pasta endurecida de cimento, que
essencialmente são quem controla as deformações de retração
por secagem e de fluência no concreto, são influenciados por vá-
rios fatores que interagem simultaneamente [2]. Dentre os fatores
que influenciam nesta propriedade estão: o tipo de material e a
dosagem, os aditivos e adições, a composição química do cimento
e a finura, a umidade relativa do ar e a temperatura do ambiente,
as condições de cura e conservação, a geometria do elemento de
concreto, a idade de carregamento e a resistência do concreto.
Neville [4] afirma que um dos fatores mais importantes que atuam
sobre a fluência do concreto é a umidade relativa do ar que o
envolve. Para a fluência, a umidade relativa afeta a secagem do
concreto, sendo importante distinguir entre a secagem que ocorre
antes e depois do seu carregamento. A secagem da peça enquan-
to carregada, aumenta a fluência, isto é, introduz a fluência por
secagem. Contudo, em peças de concreto que tenham atingido o
equilíbrio higroscópico com o meio antes da aplicação da carga, a
influência da umidade relativa é menor.
Com relação à temperatura, ela pode ter dois efeitos opostos so-
bre a fluência. Mehta e Monteiro [2] relatam que se uma peça de
concreto é exposta a uma temperatura maior que a ambiente como
parte do processo de cura antes de ser carregada, a resistência
aumentará e a deformação por fluência será menor do que a de
um concreto armazenado a uma temperatura mais baixa. Isso por-
que a temperatura acelera a hidratação, reduzindo a fluência. Por
outro lado, a exposição à alta temperatura durante o período em
que o concreto está sendo carregado pode aumentar a fluência.
Em ensaios considerando a variação da umidade ao longo do
tempo realizados em argamassa por Neville [5], os resultados
mostram que a fluência é aumentada quando esta é exposta à va-
riação de umidade relativa somente se o carregamento é aplicado
antes da primeira secagem. A exposição da argamassa a umidade
relativa alternando entre 50 e 70% apresenta fluência quase tão
grande quanto a mantida em uma umidade relativa constante de
50% e muito maior que a da umidade relativa média de 60%. Isso
sugere que, alternando a umidade relativa, a fluência será aumen-
tada além daquela do menor limite de umidade. O mesmo autor
também cita o estudo do comportamento do concreto exposto a
variações da umidade relativa ao ar livre e protegido da chuva (va-
riação de umidade de 60 a 90%), comparando-os com resultados
de laboratório com corpos de prova mantidos a 50% de umidade.
A partir dos resultados parece não haver diferença substancial na
fluência ou na deformação total entre o local de exposição onde
a umidade relativa variou de 60 a 90%, quando comparados aos
corpos de prova mantidos em umidade constante de 50%. Por-
tanto, é necessário ter cuidado na aplicação de resultados com
umidade constante para aplicações em campo.
Já para a idade de carregamento, a fluência dos concretos carre-
gados a baixas idades é maior nas primeiras semanas de carrega-
mento em relação a concretos carregados a maiores idades. Esse
comportamento é devido ao maior grau de hidratação dos concre-
tos mais velhos, que apresentam estrutura interna mais compac-
ta e menos água disponível [3]. Já para idades de carregamento
superiores a 28 dias, a influência da idade é muito pequena [6].
Neste trabalho são feitas comparações entre resultados de fluên-
cia por secagem obtidos entre corpos de prova carregados em
idades diferentes e mantidos em câmara climatizada (ambiente
controlado) e em corpos de prova deixados em ambiente sem
controle de umidade relativa do ar e temperatura ambiente. Além
disso, são feitas comparações entre os resultados experimentais
obtidos e modelos de previsão disponíveis na literatura.
2. Materiais e programa experimental
O concreto utilizado neste trabalho é um concreto auto adensável
que foi caracterizado tanto no estado fresco quanto no estado en-
durecido. Os ensaios realizados no estado fresco foram: espalha-
mento, tempo de escoamento T
500
, funil-V e caixa-L. Os ensaios
realizados no estado endurecido foram: resistência à compressão,
resistência à tração, módulo de elasticidade e fluência por secagem.
O concreto foi feito com cimento do tipo CP-II-E-40 da Votoran-
tim Cimentos Brasil S.A., brita 0 de origem granítica, brita 1 de
Tabela 1 – Traço do concreto utilizado no trabalho
Componentes
CAA
3
Cimento (kg/m )
3
Areia de quartzo(kg/m )
3
Areia de brita (kg/m )
3
Brita 1 (kg/m )
3
Brita 0 (kg/m )
Água (l)
3
Superplastificante viscocrete 3535 (kg/m )
3
Superplastificante Mira 94 (kg/m )
a/c (kg/kg)
f (MPa)
ck
370,0
512,0
420,0
520,8
347,2
180,0
2,59
2,40
0,49
50
237
IBRACON Structures and Materials Journal • 2013 • vol. 6 • nº 2
A. C. MARQUES | T. N. BITTENCOURT | M. P. BARBOSA