1. Introdução
As argamassas colantes são compostas por cimento, agregado,
aditivos e eventualmente adições. Produzidas industrialmente, os
aditivos mais comuns são os éteres de celulose (HEC e MHEC) e
os látex poliméricos (PVA). Cada um desempenha funções especi-
ficas no estado fresco e endurecido da argamassa [1]. O látex me-
lhora o comportamento reológico da argamassa fresca, mas, prin-
cipalmente, proporcionam flexibilidade e resistência à tração para
a argamassa endurecida [2]. Os éteres são polímeros solúveis em
água e pequenas quantidades deste polímero levam à elevação da
retenção de água e da viscosidade em argamassas [3, 4].
A areia usada nas dosagens de argamassas são predominante-
mente quartzosas com dimensões menores que 0,50 mm. Carac-
terísticas como forma, textura e granulometria exercem grande
influência na trabalhabilidade e aderência das argamassas [5]. A
forma e textura dos grãos são as maiores responsáveis por alte-
rações no coeficiente de atrito. Mendes [6] demonstrou que partí-
culas mais arredondadas possuem um coeficiente de atrito menor
se comparado àquelas com forma irregular. Pereira [7] verificou
que a forma das partículas maiores que 0,090 mm influenciam
significativamente os fenômenos de escoamento da argamassas,
sendo quanto mais rugosas as partículas maior o cisalhamento
necessárias para escoamento das misturas.
Outra questão relacionada com a influência da distribuição granu-
lométrica das partículas é o seu grau de empacotamento. A con-
dição ideal seria aquela onde há um preenchimento gradual entre
os vazios deixados pelas partículas, de forma que vazios maiores
sejam preenchidos por partículas menores [8]. Deve-se, no entan-
to garantir que não haja um excesso de finos, pois estes poderão
acarretar um elevado aumento na área superficial e, consequen-
temente, maior quantidade de água necessária para recobrir as
partículas. Areias com uma finura elevada aumentam o consumo
de água da mistura o que pode provocar uma retração acentuada
nas argamassas, após a evaporação da água, além de que os fi-
nos da areia podem preencher os poros dos substratos ocupando
espaços dos produtos de hidratação [5, 9].
Por outro lado, um aumento na proporção de areia, mantida a
mesma quantidade de água na mistura, diminui a trabalhabilidade
das argamassas, influenciando no desenvolvimento da resistência
de aderência dos revestimentos. Verifica-se também que areias
mais grossas provocam um ineficiente envolvimento dos grãos
pela pasta de cimento, devido a dificuldade de escoamento da
argamassa, o que tende a comprometer a extensão da aderência
[9]. No entanto, deve-se ressaltar que um adequado porporciona-
mento na quantidade de areia é imprescindível para formação do
esqueleto indeformável da mistura, reduzindo-se assim a retração
nas argamassas.
Quanto à especificação do tipo de cimento para argamassas co-
lantes, a finura do material exerce influência significativa. Diferen-
tes cimentos apresentam características físicas dsitintas, sendo,
no entanto, a finura um dos parâmetros mais significativos [10].
Cimentos mais finos demandam mais água ou a utilização de adi-
tivos para uma mesma trabalhabilidade.
Sob o ponto de vista do comportamento reológico, assume-se que
as argamasssas colantes são suspensões concentradas de par-
tículas sólidas imersas em um líquido viscoso, o qual tem como
função assegurar a coesão do sistema, além de proporcionar lu-
brificação e espaço para a movimentação dos agregados [8]. Se o
volume de matriz não for suficiente, as características reológicas
e as propriedades da argamassa são prejudicadas [11, 6]. Com o
aumento no teor de matriz, o fluido escoa com maior facilidade e
a fluidez do sistema passa a ser governada pela viscosidade da
matriz. Com isso, para entender a reologia do fluido, é necessária
a análise tanto dos fenômenos que ocorrem na matriz, como os
que derivam dos agregados, para que se tenha uma visão global
do seu comportamento reológico [12].
Para definir o comportamento das argamassas no estado fresco
frequentemente utilizam-se relações com sua consistência, sendo
utilizado para tal dados obtidos através de ensaios como o “Flow
Table” e o “Dropping Ball” [13], os chamados ensaios monopon-
tos. No entanto, mesmo estes ensaios sendo de fácil execução,
apresentam limitações conceituais na caracterização das arga-
massas. Não é possível que o comportamento complexo de um
material seja descrito por um único valor de medida, mas deve ser
sim medido por um perfil reológico e, preferencialmente, simulan-
do as solicitações práticas reais, visto que o comportamento pode
variar em função das características da solicitação [14].
Para preencher esta lacuna desenvolveu-se o ensaio “Squeeze
flow” que permite caracterizar o comportamento reológico das ar-
gamassas através dos parâmetros característicos: viscosidade e
tensão de escoamento, sendo este ensaio normalizado pela NBR
15839 [15]. Apesar da norma citada não ser específica para aná-
lise de argamassas colantes, a metodologia já é utilizada com su-
cesso por diversos pesquisadores [8, 7, 16], com ajustes e adap-
tações nos aparatos de ensaio.
Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho é compreender
o comportamento no estado fresco de argamassas colantes, com
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IBRACON Structures and Materials Journal • 2013 • vol. 6 • nº 3
M. R. M. M. COSTA | E. PEREIRA | R. G. PILEGGI | M. A. CINCOTTO
Tabela 1 – Resultados de deslizamento e teor de água utilizado nas argamassas e pastas
Argamassas colantes e pastas
( G )
A
( G )
B
( M )
C
( B )
D
( M )
E
( B )
F
Quantidade de água indicada pelo fabricante
para as argamassas (ml/ Kg)
Proporção água/materiais secos para ensaio
de viscosidade das pastas (ml/g)
Deslizamento das argamassas (mm)
230
1,1
0,5
220
1,1
0,5
200
0,9
0,7
230
0,9
3,4
230
1,2
1,1
200
0,9
5,9
Obs: ( B ) Boa qualidade; (M) Qualidade média; (R) Ruim – avaliação pelo deslizamento