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IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 6
A. B. ROHDEN | D. C. C. DAL MOLIN | G. L. VIEIRA
com CPV ARI e submetidos a pré-carregamento aos 7 dias com
75% de sua carga de ruptura. A recuperação de microfissuras cor-
robora a teoria de que ocorre colmatação autógena, quebra de
cristais mais fracos e hidratação de compostos resistentes rema-
nescente.
1.1 Justificativa
Tendo em vista o mecanismo de enrijecimento da pasta de cimen-
to e do concreto e a capacidade de recuperação da sua estrutura
mesmo quando submetido a carregamentos já no estado endure-
cido, o presente estudo visa investigar a viabilidade da utilização
do concreto após o tempo de pega do cimento.
1.2 Objetivo
O presente trabalho tem como objetivo caracterizar a resistência
à compressão do concreto misturado ao longo de seis horas. Ten-
do em vista a importância do abatimento da mistura para os pro-
cessos de lançamento e acabamento do concreto, neste estudo
manteve-se a ao longo do tempo o abatimento das misturas em
100±20 mm, empregando-se, para tal, aditivio superplastificante.
2. Materiais e programa experimental
2.1 Materiais utilizados
2.1.1 Cimento
Tendo como objetivo contemplar diferentes situações de ensaio,
empregou-se neste trabalho dois tipos de cimento com composi-
ções químicas e resistências iniciais bastante distintas. O cimento
Portland de alta resistência inicial (CPV – ARI), com massa espe-
cífica de 3,10 g/cm³, que desenvolve grande resistência nos pri-
meiros dias de idade. O CPV – ARI possui um mínimo de adição
em sua composição (NBR 5733). O outro cimento utilizado foi o ci-
mento Portland pozolânico (CPIV), com massa específica de 2,90
g/cm³, com adição de grande quantidade de pozolana, desenvol-
vendo resistências iniciais menores (NBR 5736).
A Tabela 1 apresenta a caracterização quimica dos cimentos uti-
lizados, os dados fornecidos pelo fabricante e a exigência da no-
malização brasileira.
ao cimento até o momento em que a agulha de Vicat penetra
0,5 mm na pasta. (SILVA, 2007).
As normas de especificação estabelecem os limites aceitáveis
para cada designação de cimento Portland. A NBR 5733 – CPV,
NBR 5735 – CPIII, NBR 5736 – CPIV e a NBR 11578 – CPII es-
tabelecem que o tempo de início de pega deva ser igual ou maior
a 1 hora.
As reações entre cimento e água são as causas básicas da pega
do concreto, embora, por diversas razões, o tempo de pega do
concreto não coincida com o tempo de pega do cimento emprega-
do no concreto. Os fenômenos de enrijecimento, de pega e de en-
durecimento são manifestações físicas das reações progressivas
de hidratação do cimento (SILVA, 2007).
Em termos práticos, o tempo de início de pega dá uma idéia do
tempo disponível para manusear o concreto fabricado com aquele
cimento. Porém, o resultado é pouco preciso, pois o ensaio é feito
sob condições padronizadas enquanto, no campo, o concreto so-
fre influência de fatores como temperatura e umidade relativa do
ar, não controladas, além do uso de aditivos químicos, que podem
alterar o tempo de pega (SILVA, 2007).
A teoria da percolação de ACKER (1988) apud SILVA (2007) per-
mite simular a hidratação do cimento e descrever o fenômeno da
pega. Os grãos sólidos de cimento, isolados na fase suspensão, co-
meçam a ter contato entre si, à medida que os produtos de hidrata-
ção vão sendo formados ao redor desses grãos. O estabelecimen-
to dessas ligações mecânicas entre os grãos ocorre de maneira
aleatória e descontínua no volume, passando, no estágio seguinte,
para a formação de amas, subconjuntos contínuos de grãos liga-
dos mecanicamente. O aparecimento do primeiro caminho contínuo
atravessando o conjunto constitui o patamar de percolação, que é o
primeiro caminho contínuo de grãos mecanicamente ligados, unin-
do uma face do volume à face oposta (Figura 1) (SILVA, 2007).
Terminado o tempo de início de pega e dado início ao processo
de hidratação e a formação das primeiras amas, a remistura do
concreto implica impreterivelmente na quebra dos primeiros cris-
tais oriundos do processo de hidratação. Este fato traria prejuízos
para as propriedades mecânicas? Poderia então este material ser
utilizado com função estrutural?
Vieira (2008) pesquisou a influência da microfissuração causada
por carregamento precoce nas propriedades mecâncias do con-
creto. Através de ensaios de microscopia detectou a recuperação
de microfissuras verificadas em amostras de concretos produzidos
Tabela 1 – Caracterização química dos cimentos utilizados
Caracteríticas
avaliadas
(% da massa)
Tipos de cimento Portland
CP IV
(fabricante)
Exigência da
NBR 5736/91
CP V – ARI
(fabricante)
Exigência da
NBR 5733/91
MgO
4,39
≤6,50
3,01
≤6,50
SO
3
2,12
≤4,00
4,26
≤4,50
Perda ao fogo
3,74
≤4,50
3,90
≤4,50
CaO livre
0,80
-
-
-
Resíduos insolúvel
3,05
-
-
-