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IBRACON Structures and Materials Journal • 2013 • vol. 6 • nº 2
Is it possible to exceed the time limit specified by Brazilian Standard NBR 7212 for mixing and
transporting concrete?
1. Introdução
Atualmente, além da praticidade e custo, pelas exigências do mer-
cado por um melhor controle na dosagem assim como uniformi-
dade e homogeneidade, grande parte do concreto consumido no
Brasil sai de centrais dosadoras. Um dos grandes problemas que
essas centrais dosadoras enfrentam é em relação ao resíduo ge-
rado, por ser agressivo ao meio ambiente. Esse concreto residual
é proveniente, na grande maioria, de sobras de concreto que são
resultado da não aceitação da obra por estar o concreto com tem-
po de mistura, a partir do carregamento, acima do especificado
por norma. A NBR 7212, para execução de concreto dosado em
central, estipula o tempo máximo de transporte da central até a
obra em 90 min, bem como o tempo máximo para que o concreto
seja descarregado (aplicado) completamente em 150 min. As re-
ações de hidratação que ocorrem com o cimento, o processo de
início de pega, a perda que há em sua trabalhabilidade durante
as primeiras horas, com consequente dificuldade de lançamento
e adensamento, podem ser os fatores principais que limitam esse
tempo de utilização do concreto.
1.1 Revisão da literatura
O transporte do concreto pré-misturado para o canteiro de obras
deve ser feito o mais rápido possível para minimizar os efeitos
de enrijecimento e de perda de trabalhabilidade e não dificultar,
após o lançamento, o adensamento e o acabamento apropriados.
Em condições normais, geralmente há uma perda desprezível da
consistência durante os primeiros 30 minutos após o início da hi-
dratação do cimento Portland. Quando o concreto é mantido em
reduzido estado de agitação ou remisturado periodicamente, pode
ocorrer alguma perda de abatimento com o tempo que, geralmen-
te, não representa qualquer risco sério para o lançamento e aden-
samento do concreto fresco durante os primeiros 90 minutos. A
trabalhabilidade do concreto é a propriedade que determina o es-
forço exigido para manipular uma quantidade de concreto fresco,
com perda mínima de homogeneidade. O termo manipular inclui
as operações de primeiras idades como o lançamento, adensa-
mento e acabamento (MEHTA; MONTEIRO, 2008).
Sujeito a altas temperaturas ambientes, o concreto fresco endure-
ce em um intervalo de tempo menor quando comparado com os
expostos às condições normais e essa pega rápida diminui a tra-
balhabilidade durante os processos de aplicação, adensamento e
acabamento do material. De uma forma geral, os tempos de início
e fim de pega diminuem à medida que a temperatura de cura au-
menta o que obviamente está relacionado com o aumento da taxa
de hidratação do cimento com a temperatura, principalmente nos
primeiros instantes (HEIKAL et al., 2005). Os principais fatores que
afetam a trabalhabilidade do concreto são a evaporação, hidrata-
ção, absorção e agitação. Em função das condições ambientais,
provavelmente a evaporação e hidratação aceleram com o tempo.
(DEWAR; ANDERSON, 1992). A perda de abatimento do concreto
fresco é um fenômeno normal e pode ser definida como sendo a
perda de fluidez com o passar do tempo. Essa propriedade do
concreto é particularmente importante no caso de concreto dosa-
do em centrais, visto que o proporcionamento e o início da mistura
dos materiais ocorrem na central, enquanto que o lançamento e/
ou adensamento somente será feitos alguns minutos ou horas de-
pois, quando o caminhão betoneira chegar ao canteiro de obras
(WEIDMANN et al., 2007). A mistura prolongada do concreto ace-
lera o endurecimento, o mesmo acontece com a taxa de perda do
abatimento, que na maior parte traz inconveniente, especialmente
quando longos períodos de transporte estão envolvidos como ge-
ralmente é o caso de concreto pré-misturado (ERDOĞDU, 2005).
Kirca et al. (2002), analisando concretos de 25,0 e 35,0 MPa,
constataram uma significativa perda do abatimento com o aumen-
to no tempo de mistura, analisando ainda que a perda do abati-
mento após um período inicial é maior para o concreto com maior
consumo de cimento em função de seu processo de hidratação.
Observou-se um aumento na resistência à compressão com o
aumento do tempo de mistura, onde nenhum processo de ajuste
de abatimento tenha ocorrido. Porém, para facilitar o lançamento
e obter adequado acabamento do concreto, normalmente, essa
perda no abatimento é corrigida com adição de água. Teixeira e
Pelisser (2007), em estudo realizado numa central dosadora de
concreto, para um traço de concreto com resistência pré-definida
de 20,0 MPa, quantificaram a perda de resistência quando houve
correção do abatimento com adição de água ao concreto, obten-
do, após 2,5 horas, uma queda de 34% e ao final de 4 horas, uma
redução de resistência de 44%. Erdoğdu (2005) também registrou
essa queda na resistência à compressão em função da adição de
água em concretos com até 150 minutos, onde em intervalos de
30 minutos o abatimento inicial foi restabelecido com a adição de
água, registrando que essa redução é bastante acentuada por até
90 min de mistura e observando um ligeiro decréscimo posterior.
No final de 150 min de mistura, uma perda de resistência de mais
de 40% é observada em relação à resistência inicial do concreto.
Essa prática em ajustar o abatimento com água deve ser descar-
tada, uma vez que aditivos superplastificantes podem ser usados
para isso sem afetar negativamente as outras propriedades do
concreto.
Aditivos interagem quimicamente com os aglomerantes do con-
creto e afetam seu desempenho no estado fresco e endurecido.
Podem melhorar a trabalhabilidade da mistura fresca e resistência
ou durabilidade do concreto endurecido. As razões que superplas-
tificantes são mais adequados do que outras substâncias quími-
cas são o número de melhorias que podem ser alcançados por
seu uso (COLLERPADI, 2005).
Kirca et al. (2002), procurando simular uma situação semelhante
à realidade de obra em que o concreto utilizado é concreto pré-
-misturado e transportado com caminhão betoneira, reproduzi-
ram em laboratório concretos com duas classes de resistências
mantidos em mistura prolongada por até 4 horas, analisando seu
comportamento a cada hora. O abatimento inicial de 150 mm foi
restabelecido nos tempos pré-determinados por quatro processos
de ajustes distintos: somente com água e água com aditivo su-
perplastificante em três difirentes dosagens (1,5%, 3,0% e 4,5%
da massa de água). Com a utilização do superplastificante uma
menor quantidade de água é necessária para ajustar o abatimen-
to, com isso as relações a/c finais das misturas com o aditivo são
mais baixas do que se utilizada somente água pura. Assim, a dimi-
nuição da resistência à compressão destes concretos onde o aba-
timento foi restabelecido com aditivo superplastificante é menor
do que a diminuição da resistência daqueles concretos ajustados
com água pura. Mesmo pequenos aumentos foram observados
na resistência à compressão dos concretos ajustados com super-
plastificante (especialmente para o caso de ajuste com superplas-
tificante 4,5%).